sábado, novembro 14, 2009

Nossa vida frágil

Há poucos dias fomos alertados, pelo o apagão que atingiu grande parte do Brasil, de como nossa vida frágil fica cada dia mais frágil. Nossos governantes estão debatendo se a causa foi um raio ou demanda. Já montaram comissões e, passam grande parte do dia debatendo e procurando a causa (ou o culpado).

Se foi um raio, nossas redes de distribuição são muito fracas. Equivaleria a transportar água em baldes de papel. Se foi demanda fica estampado falta de gerenciamento. Especialmente se considerarmos o crescimento de nosso país e os eventos internacionais que hospedaremos. Seria o equivalente a convidar muita gente para um almoço com pouca comida.

Não tenho a mínima idéia da causa. Mas não estou só. Cá entre nós, se eu tivesse a habilidade de um chargista faria uma pequena história: No primeiro quadrinho desenharia alguém comprando seu primeiro aparelho de ar condicionado. No segundo, ao ligá-lo, a eletricidade da casa dele cai. No terceiro ele vê que sua rua está escura. E no último eu desenharia um mapa do Brasil escuro.

Pode parecer brincadeira, mas há uma enorme ironia, depender de algo que inventamos há pouco mais de cem anos para manter a nosso maior bem: a vida!

Pense comigo: Apesar de já haver cidades, nos dias de nosso pai Abraão, o povo de Deus vivia em tendas. Eram nômades. A pouca sensação de segurança que tinham vinha de serem muitos, de terem famílias grandes, servos leais e servos nascidos em casa. Sendo mais específico: homens que pudessem lutar.

Em tendas também viveram os descendentes de Abraão, até que Jacó fixou-se no Egito. Lá viveram por quatrocentos anos, ao que tudo indica em aglomerados urbanos maiores do que um acampamento de beduínos. Esses pequenos aglomerados já eram o embrião das cidades em que habitariam.

Durante o êxodo voltaram a viver peregrinos. Não apenas peregrinos, mas desprotegidos, pois nessa desproteção Deus lhes mostrava sua graça e misericórdia guardando-os. Deus retirou-lhes todo o sentimento de segurança que uma multidão pode oferecer, pois até para comida dependiam da chuva, não água, mas de alimento: o maná.

O deserto, ao qual foram levados, e pelo qual foram conduzidos serviu-lhes de escola. Nele aprenderam o que era fé. Nele morreram na fé: avistando de longe a promessa sem, entretanto ver seu cumprimento. Nele foram criados na fé sabendo que tudo - alimento, vestes e segurança contra inimigos - vinha diretamente das mãos de Deus.

Ao chegarem na Terra Prometida espalharam-se nela conforme a determinação de Deus. Deveriam ser uma confederação de famílias que vivessem independentemente umas das outras com poucas cidades cujo único vínculo fosse a adoração no Tabernáculo. As poucas cidades que tinha eram chamadas Cidades de Refúgio. E, se inicialmente serviam de refúgio doméstico contra vinganças, serviram também de refúgio contra os muitos inimigos externos, e inspiraram a criação de outras cidades com esse objetivo. Não era sem motivos que as construíam em colinas, junto de fontes de água e também não era sem motivo que as muravam.

Como acontecia a todos os povos, a cidade lhes fornecia aquela sensação de segurança que no passado, seus pais eram obrigados a derivar da fé.

E, desse estágio até nossos dias, mesmo considerando a enorme mudança pelas quais as cidades passaram, elas continuaram, com a mesma missão básica: fornecer sensação de segurança. Os inimigos agora são a falta de recursos: trabalho, saúde e educação. Nas cidades de hoje encontramos certa proteção contra eles.

Até cento e poucos anos atrás dependíamos totalmente do fogo. Ele era necessário ao fogão e à máquina mais complexa de então. A chegada da eletricidade nos permitiu ter não apenas o fogo domado, mas algo que fizesse tudo que o fogo faz, sem o inconveniente da combustão e de seus efeitos desagradáveis.

Hoje o “fogo virtual”, não apenas aquece nossa comida e nossas residências, como guarda nossas informações: desde nosso número de identidade como o valor de nossos bens.

Agora pense bem: No passado o fogo era aceso em cada casa e se não houvesse como acendê-lo, nem por isso todos ficariam sem água, sem comunicações e a mercê de hordas de bandidos. Hoje esse “fogo virtual” está cada vez mais longe de onde vivemos, e, como dele dependem muitas coisas, quando ele é extinto - por qualquer motivo - desde o mais simples como um raio, ao mais complexo conjunto de falhas ou a desídia de seus guardadores - com ele se vão bens preciosos. Às vezes até vidas.

O que será de nós e de nossa civilização sem eletricidade?

Mas, é possível que fiquemos sem eletricidade? Sim. Já ficamos algumas horas em pelos menos três apagões de que me lembro. É altamente improvável que fiquemos por um período longo, mas não é impossível.

Nossa vida já é frágil por sua própria natureza. Cada vez mais somos ensinados que depender de Deus aumenta sua fragilidade e cada vez mais nos agrupamos para aliviar tal dependência. Entretanto, fazendo isso, só a tornamos mais frágil ainda.

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